Um cidadão comum está parado no sinal e de repente tudo fica branco. Seus olhos cegam, mas não uma cegueira comum, uma cegueira negra. E assim acontece com outras pessoas. É o início do ‘mal branco’, um problema encarado pelo governo como uma epidemia. Este resolve confinar e isolar todos que foram tomados por este mal em um manicômio desativado. Lá, não têm contato com qualquer pessoa que tenha visão. Somente deixam caixas de comida e produtos de limpeza na entrada do local, para que sejam retiradas posteriormente. E assim começa a grande trama escrita por José Saramago.
A experiência com comentários de amigos e conhecidos denuncia que ler Saramago não é, a priori, muito fácil. A sua escrita com poucas divisões entre parágrafos, diálogos e narração pode parecer dificultar a compreensão imediata da história, além das peculiaridades da língua da maneira que se fala em Portugal. Mas compreensão imediata para quê? O ser humano é pensante ou deve entregar-se sempre à obviedade das coisas? Voltando, conheço pessoas muitas que desistiram de ler Saramago por estas e outras. A eles, cabe minha pena, por não se permitirem entrar neste universo de personagens ao mesmo tempo simples e complexos, assim como suas histórias e vidas.
Em Ensaio sobre a cegueira, o autor consegue colocar um grupo de seres humanos sob a mesma condição – a falta de visão – numa convivência em que, começando harmoniosamente, chega ao ponto hobbesiano do homem lobo do homem, ou talvez exercendo as artimanhas de relações de poder já descritas por muita gente. Talvez a exemplificação de Foucault se encaixe ali – numa relação restrita a poucas pessoas, inicialmente numa condição de igualdade, começa-se a se exercer uma tentativa de relação de poder, utilizando o domínio da comida como argumento primeiro.
Saramago ainda consegue despertar assuntos outros nas entrelinhas, tratando basicamente do ser humano, da importância da “coisa que há dentro de nós e que não tem nome, que é o que somos”, como disse a rapariga dos óculos escuros, uma das personagens. Demonstra, na trama, a cegueira que tapa os olhos daqueles que vêem.
Em breve, o livro será levado ao cinema por Fernando Meirelles, e isso me desperta uma grande curiosidade e desconfiança, por acreditar ser difícil traduzir a riqueza do texto de Saramago no roteiro de um filme. Mas assim como alguns julgam difícil a leitura, eu não posso desacreditar no filme antes de vê-lo, e sentir mais uma vez o que a mulher do médico, o garoto estrábico, a rapariga dos óculos escuros e todos os outros protagonistas desta história sentiram.
A experiência com comentários de amigos e conhecidos denuncia que ler Saramago não é, a priori, muito fácil. A sua escrita com poucas divisões entre parágrafos, diálogos e narração pode parecer dificultar a compreensão imediata da história, além das peculiaridades da língua da maneira que se fala em Portugal. Mas compreensão imediata para quê? O ser humano é pensante ou deve entregar-se sempre à obviedade das coisas? Voltando, conheço pessoas muitas que desistiram de ler Saramago por estas e outras. A eles, cabe minha pena, por não se permitirem entrar neste universo de personagens ao mesmo tempo simples e complexos, assim como suas histórias e vidas.
Em Ensaio sobre a cegueira, o autor consegue colocar um grupo de seres humanos sob a mesma condição – a falta de visão – numa convivência em que, começando harmoniosamente, chega ao ponto hobbesiano do homem lobo do homem, ou talvez exercendo as artimanhas de relações de poder já descritas por muita gente. Talvez a exemplificação de Foucault se encaixe ali – numa relação restrita a poucas pessoas, inicialmente numa condição de igualdade, começa-se a se exercer uma tentativa de relação de poder, utilizando o domínio da comida como argumento primeiro.
Saramago ainda consegue despertar assuntos outros nas entrelinhas, tratando basicamente do ser humano, da importância da “coisa que há dentro de nós e que não tem nome, que é o que somos”, como disse a rapariga dos óculos escuros, uma das personagens. Demonstra, na trama, a cegueira que tapa os olhos daqueles que vêem.
Em breve, o livro será levado ao cinema por Fernando Meirelles, e isso me desperta uma grande curiosidade e desconfiança, por acreditar ser difícil traduzir a riqueza do texto de Saramago no roteiro de um filme. Mas assim como alguns julgam difícil a leitura, eu não posso desacreditar no filme antes de vê-lo, e sentir mais uma vez o que a mulher do médico, o garoto estrábico, a rapariga dos óculos escuros e todos os outros protagonistas desta história sentiram.
Para ler: Ensaio sobre a cegueira - José Saramago. Editora Companhia das Letras, 39ª reimpressão.
6 comentários:
Vi seu blog na comunidade do orkut. Esse foi o primeiro livro que li do saramago, autor que, particularmente, mais gosto. Apesar que é dificil de apontar um que mais goste. Esse Ensaio foi o primeiro livro que li dele. Lembro que tinha 18 anos e achei genial logo no primeiro paragrafo. Hoje já li quase todos. Acho que Ensaio é o livro mais "pop". O Evangelho pra mim é uma obra-prima, mas O ano da morte de Ricardo Reis é genialmente o meu preferido!
Quanto ao filme, tenho certeza que virá coisa boa, já que foi dirigido pelo Fernando Meireles!
Saramago é sempre prazeiroso ler!
abraço
Raphael
Nossa, saramago é a cura de todos os males, estou lendo o "ano de 1993" maravilhoso também. Nunca havia me deparado com tamanha destreza em escrever e trabalhar com o surreal como ele faz, eh simplesmente perfeito... Ahh atualizei meu blog viu hehehe, tava bem desatualizado mesmo huahauhauhauha
abração!!!
Ensaio sobre a cegueira é um dos livros mais fodas que já li.Fiquei uma semana inteira só com ele,não queria mais nada,somente ele.E ninguém me venha falar que não entende Saramago porque ele consegue fazer-nos entender se é uma pergunta ou uma esclamação sem colocar uma pontuação sequer(!??!).É a intenção que move a escrita dele e cada vez que você lê, é como tivesse mergulhado num mar desconhecido,porém muito acolhedor.
Sou suspeito em falar dele,basta ler para saber.
Boa pedida!
ainda estou pra ler este livro do Saramago, e espero entrar pro time daqueles que compreenderam e acharam genial.
p.s.: não confio muito em Meirelles...
é um livro incrível, de fato; aquele estado de anomia descrito por saramago atinge aos leitores [a mim ao menos] de forma muito intrínseca, a coisa que nã tem nome, que é o que somos, se manifesta. o filme? bom, vamos rezar...
Saramago...A minha medade portuguesa grita e arde pelo teu verbo! a outra, que a lingua da tua patria empresta, delicia-se com Rosas em outras veredas.
Seu Jose, "sou cego de tanto te-lo...que eh uma coisa bela!"
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