terça-feira, 8 de maio de 2012

O Oásis de Bethânia


No ano passado, a aprovação de um orçamento de 400 mil reais para um projeto de Maria Bethânia para um blog levantou uma polêmica e discussão que acabou recaindo sobre a intérprete ao invés de somente questionar-se  a maneira como as leis de incentivo estavam sendo utilizadas. Faltou um pouco de profundidade em muitas opiniões alheias – uma pesquisa mais apurada mostraria que orçamentos ainda maiores são disponibilizados para outros projetos. Eu me lembro de já ter conversado com pessoas que tratam de aprovações de projetos culturais e sabido que muitos projetos perdem de serem beneficiados porque não cumprem com requisitos básicos solicitados (geralmente estes projetos tem normas a serem respeitadas, informações básicas a serem apresentadas). Por isso acho que toda esta polêmica foi um tanto exagerada e, em boa parte, superficial. O fato é que o peso caiu sobre a cantora, a ponto de desistir do seu blog e abrir mão do apoio já aprovado. Uma pena, frente à interessante ideia.
Passados alguns meses, Bethânia lança um disco com um tom de desabafo e fúria – Oásis de Bethânia, seu 50º álbum. A regravação de “Calúnia”, do repertório de Dalva de Oliveira, é exemplo disso; sua letra nervosa já avisa: “Quiseste ofuscar minha fama, até jogar-me na lama só porque eu vivo a brilhar; sim, mostras-te ser invejo, viraste até mentiroso, só para caluniar”. Outro momento de desabafo é Carta de amor, que, apesar do nome, é na verdade um aviso que inicia dizendo “Não mexe comigo, que eu não ando só”. Em seguida, santos, entidades e Jesus, entre muitos outros, são invocados em sua proteção, culminando no fim em um discurso em que afirma que esta pessoa que está tentando “derrubá-la” não passa de um nada. Forte! Mas no disco há espaço também para interpretações de cunho mais romântico e emocional, uma especialidade da cantora, como a bela Casablanca, de Roque Ferreira, e Vive, composição de Djavan.
Com este novo trabalho, Bethânia reafirma-se como intérprete e cantora mestra. A sua presença e trabalho ainda é de grande relevância para a música popular brasileira, queiram ou não queiram.
Maria Bethânia – Oásis de Bethânia ****
  

Não mexe comigo que eu não ando sóeu não ando só, que eu não ando sónão mexe não (2x)
Eu tenho Zumbi, Besouro o chefe dos Tupissou Tupinambá, tenho Erês, caboclo boiadeiromãos de cura, Morubichabas, Cocares, Arco-írisZarabatanas, Curarês, Flechas e Altares.A velocidade da luz no escuro da mata escurao breu o silêncio a espera. Eu tenho Jesus,Maria e José, todos os Pajés em minha companhiao menino Deus brinca e dorme nos meus sonhoso poeta me contou.


Não mexe comigo que eu não ando sóeu não ando só, que eu não ando sónão mexe não (2x)
Não misturo, não me dobr. a rainha do maranda de mãos dadas comigo, me ensina o bailedas ondas e canta, canta, canta pra mim, é doouro de Oxum que é feita a armadura que guarda omeu corpo, garante meu sangue, minha gargantao veneno do mal não acha passagem e em meucoração Maria ascende sua luz, e me aponta ocaminho.Me sumo no vento, cavalgo no raio de Iansã,giro o mundo, viro, reviro tô no Reconcavotô em Fêz, vôo entre as estrelas, brinco deser uma, traço o cruzeiro do sul com a tochada fogueira de João menino, rezo com as trêsMarias, vou além me recolho no esplendor dasnebulosas descanso nos vales, montanhas, durmona forja de Ogum, mergulho no calor da lavados vulcões, corpo vivo de Xangô


Não ando no Breu nem ando na trevaNão ando no breu nem ando na trevaé por onde eu vou o Santo me levaé por onde eu vou o Santo me leva(2x)


Medo não me alcança, no deserto me acho, façocobra morder o rabo, escorpião vira pirilampomeus pés recebem bálsamos, unguento suave dasmãos de Maria, irmã de Marta e Lázaro, noOásis de Bethânia.Pessoa que eu ando só, atente ao tempo numcomece nem termine, é nunca é sempre, é tempode reparar na balança de nobre cobre que o reiequilibra, fulmina o injusto, deixa nua a justiça


Eu não provo do teu féu, eu não piso no teu chãoe pra onde você for não leva o meu nome nãoe pra onde você for não leva o meu nome não(2x)


Onde vai valente? você secô seus olhos insonessecaram, não vêêm brotar a relva que cresce livree verde, longe da tua cegueira. Seus ouvidos sefecharam à qualquer música, qualquer som, nem obem nem o mal, pensam em ti, ninguém te escolhevocê pisa na terra mas não sente apenas pisa,apenas vaga sobre o planeta, já nem ouve asteclas do teu piano, você está tão mirrado quenem o diabo te ambiciona, não tem alma você éo oco, do oco, do oco, do sem fim do mundo.


O que é teu já tá guardadonão sou eu que vou lhe dar,não sou eu que vou lhe dar,não sou eu que vou lhe dar.(2x)


Eu posso engolir você só pra cuspir depois,minha fome é matéria que você não alcançadesde o leite do peito de minha mãe, até o semfim dos versos, versos, versos, que brota dopoeta em toda poesia sob a luz da lua que deitana palma da inspiração de Caymmi, se choro quandochoro e minha lágrima cai é pra regar o capim quealimenta a visa, chorando eu refaço as nascentesque você secou.Se desejo o meu desejo faz subir marés de sal esortilégio, vivo de cara pra o vento na chuva equero me molhar. O terço de Fátima e o cordão deGandhi, cruzam o meu peito.Sou como a haste fina que qualquer brisa vergamas, nenhuma espada corta


Não mexe comigo que eu não ando sóeu não ando só, que eu não ando só(2x)não mexe comigo

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