domingo, 3 de julho de 2011

A festa da Menina Morta

O grande ator Matheus Nashtergaele saiu da frente das câmeras para sua estreia na direção em A Festa da Menina Morta, de 2008. O filme é um daqueles que divide opiniões, que não tem "digestão" fácil, e nos faz repensar várias coisas: crenças, ritos, e um Brasil tão distante da nossa realidade das cidades.

A história é de Santinho (Daniel de Oliveira), rapaz com ares andrógenos que é tratado como santo abençoando e supostamente curando pessoas. Santinho teria recebido estes "poderes" depois do sucídio de sua mãe, em que recebeu da boca de um cachorro o vestido de uma menina que havia desaparecido. Desde então, celebra-se a festa da menina morta, uma celebração rodeada de rituais, em que Santinho recebe uma mensagem da menina para repassar à população.

Santinho vive o conflito do profano e do religioso - percebe-se a sua angústia em ser o que realmente é e o que acabou se tornando. Em uma comunidade ribeirinha no Amazonas, tem uma relação incestuosa com seu pai (Jackson Antunes), vive com a sombra de lembranças remotas da mãe e o peso da responsabilidade de ser um "santo"

Se é complexo colocar em poucas palavras o enredo do filme, também é complexo relatar as várias temáticas envolvidas: a reliogisidade em cima de um fato questionável, o sincronismo religioso, a vida em um sertão amazonense tão pouco explorado, a relidade crua da condição humana. Nashtergaele trabalha com uma estética que se aproxima do Cinema Novo e de uma visão naturalista do mundo, em que as coisas são mostradas como elas são, explicitadas em cenas como a degola de uma galinha, a morte de um porco (em que acompanhamos numa agonia infindável dos gritos do animal), do sexo incestuoso.

A festa da menina morta tem um roteiro envolvente, ótimas atuações (mesmo que exageradas, às vezes, por parte do protagonista) e uma linguagem que não se pode perder no cinema nacional. Vida longa a Matheus como diretor.



A festa da menina morta ****

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