sábado, 9 de abril de 2011

O Estrangeiro

Mersault vive para sua rotina, mas a morte de sua mãe o obriga a sair um pouco da mesma. Não que este seja um fato que o perturbe profundamente. Pensei que passava mais um domingo, que mamãe já estava enterrada, que ia regressar ao trabalho e que, no fim das contas, continuava tudo na mesma. Mesmo se envolvendo com uma garota e fazendo amizades, ao lermos O Estrangeiro, de Albert Camus, temos a impressão de que nada parece afetar a falta de sensibilidade, de emoções/reações do protagonista. A sua vida parece uma linha reta, em que não faz o mínimo esforço para sair dela.

Envolvendo-se em uma confusão, Mersault acaba assassinando um homem e a partir de então conforma-se com o provável destino, a prisão. Nem mesmo a tentativa do seu advogado para defendê-lo parece animá-lo. Nada, aliás, o anima. E é esse o tom desta grande obra literária: a inanimidade do personagem, inanimidade esta que chega a causar um certo mal estar ou mesmo raiva do personagem principal. É um conformismo extremo que incomoda quem, mesmo por pena, torce por ele. Tudo se passava sem a minha intervenção. Jogava-se a minha sorte sem que me pedissem a minha opinião.

Camus escreve de maneira a não criar personagens apaixonantes, despertar emoções ou criar um envolvimento na história. Mas essa é a graça: mesmo sem tudo isso, é impossível não refletir diante da história de Mersault. Só este grande-pequeno livro pra fazer isso. Genial, imperdível.

Albert Camus, O Estrangeiro   
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