sábado, 12 de fevereiro de 2011

(des) lealdade

Dois amigos foram aventurar-se por uma trilha durante as suas férias. Já havia alguns anos que faziam este tipo de viagem juntos e todos sabiam de sua grande amizade, lealdade e respeito recíproco. Durante a preparação da jornada, decidiram que um carregaria os mantimentos, água e uma pequena farmácia,  enquanto que o outro carregaria utensílios e a barraca que utilizariam para dormir.
Passados alguns dias de caminhada, chegaram em um ponto em que a trilha dividia-se em dois caminhos: um que era o recomendado pelos guias especializados que carregavam, mais seguro e não menos belo, e outro pouco explorado anteriormente, pois possuía muitos obstáculos e tinha fama de extremamente perigoso. O que carregava a barraca, mais experiente neste tipo de trilha, não exitou em afirmar que iriam pelo caminho seguro. O dos mantimentos comentou:
-                    Vá na frente, monta a barraca e me espera que logo vou. Preciso sentar e descansar um pouco, mas logo sigo ao seu encontro.
O da barraca, confiando no amigo, seguiu caminho, enquanto que o da água sentou-se. Um velho sábio da região aproximou-se e com sua delicada voz comentou:
-                    Estava lhes observando de aqui de perto. Por que não o acompanhou?
-                    Eu vou seguir pelo outro caminho, e não tive coragem de falar isso pra ele.
O velho então questionou:
-                    Este teu amigo é desleal, já traiu a tua confiança?
-                    Não, em nenhum momento. Temos uma grande amizade, a qual eu prezo muito.
-                    Pois é isto que estás sendo agora: desleal e infiel à amizade de vocês. E o poder das palavras pode ser desbancado com a intenção da atitude: não prezas por tua amizade.
-                    Eu posso estar traindo a amizade, mas preciso aproveitar o momento e ir para esta trilha desconhecida, pois sou jovem e preciso fazer isso.
-                    Meu jovenzinho, isto se chama egoísmo. Tens consciência que estás colocando valores distintos numa mesma balança? A sua amizade de um lado, contra o peso de uma aventura?
-                    Sim, mas chega de perguntas, preciso ir.
-                    Pensa mais uma vez antes de partir. Teu amigo espera pela água e pelos mantimentos que carregas.
-                    Ele sabe se virar, e quando eu voltar me perdoará e ficará tudo bem. Ele é bonzinho.
-                    As pessoas são boazinhas até que lhes quebrem a confiança.

O rapaz então seguiu pelo caminho perigoso, enquanto que seu amigo esperava por ele, com fome e sede.
 O da barraca está bem, pois o velho sábio foi ao seu encontro e levou comida e água para que sobrevivesse e seguisse o rumo. O da água, divertiu-se durante um tempo pulando pedras grandes e desvendado novas matas. Mas logo cansou-se e, distraído, caiu em um buraco fundo e escuro. E ainda encontra-se lá.

3 comentários:

João Francisco Soares Constantino disse...

Adorei o texto Pitanga! Fica como sugestão "A Cabana" de William Young.

Uma confluência de caminhos

Duas estradas se bifurcaram no meio da minha vida,
Ouvi um sábio dizer.
Peguei a estrada menos usada.
E isso fez toda a diferença cada noite e cada dia.
Larry Norman (pedindo desculpas a Robert Frost)

Abraços

Vanessa Argenton disse...

Nossa, que texto maravilhoso.

Realmente, a juventude de idade casada com a imaturidade nos impulsiona a tomar decisões baseadas em aventuras e divertimento apenas.

Já a juventude da alma casada com valores de SER HUMANO nos impulsiona a viver baseado em verdadeiros valores como amor, respeito e lealdade.

Entretanto, neste segundo, não menos encontramos aventuras e divertimento. Basta olhar por uma outra perspectiva.

E neste segundo vejo muito de VOCÊ.

Te amo meu amigo.

Melômano disse...

Belo texto. Acho que não poderia colocar em palavras melhores uma anedota que demonstrasse o desvalor de uma traição. Sabe o que é mais triste? É que nem sempre aquele que trai consegue perceber que, na verdade, ele é quem está perdendo tudo. O tempo, porém, virá com sua mão pesada e, junto com ela, o arrependimento do "amigo egoísta". Eu acho que devemos, sim, perdoar, mas sem confundir isso com a aceitação de uma situação que já se mostrou insustentável. Enfim... É o que eu penso.

P.S.: Saudades de você, meu nego Pitango. =D